No início de outubro, o navio Cosco Busan colidiu com uma das torres da ponte São Francisco - Oakland, na costa oeste dos Estados Unidos. O acidente provocou o derramamento de 58 mil galões de óleo na Bacia de São Francisco. Uma pesquisa do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas poderá produzir uma importante ferramenta para a contenção de acidentes ambientais como esse. Sob a coordenação da química Anita Marsaioli, o projeto testa a atuação de bactérias na degradação do óleo derramado.
A Petrobras financia o projeto e envia amostras de óleo para os experimentos. No laboratório, a química e doutoranda Georgiana Feitosa da Cruz procura simular a biodegradação do óleo que ocorre na natureza ao longo dos anos dentro do reservatório. Cruz recebe cinco amostras de cada reservatório os quais são selecionados pela Petrobras entre os mais produtivos da bacia de Campos. As amostras são analisadas em um cromatógrafo gasoso acoplado com espectrômetro de massas (CG-EM), um aparelho que fragmenta e identifica substâncias químicas presentes nas amostras e as diferencia por tamanho dos fragmentos.
O equipamento analisa o teor de hidrocarbonetos leves (HL) nas amostras. Quanto mais HLs, mais leve é considerado o óleo e maior o seu valor comercial por ser mais fácil o refino. Ao longo do tempo, o óleo vai perdendo esses hidrocarbonetos leves e se tornando pesado. Para o estudo da biodegradação são selecionadas as amostras mais ricas em HL que são colocadas em diferentes meios de cultivo. Segundo Cruz, esses meios são enriquecidos com vitaminas, com reguladores de pH e com um consórcio de microorganismos.
Um dos grandes desafios desse trabalho é encontrar um grupo de microorganismos consorciados que consiga biodegradar o óleo em diversos ambientes. O consórcio de microrganismos de ambientes extremos permite uma ação conjunta dessas bactérias o que seria impossível de forma isolada. "Trabalhamos com bactérias aeróbicas e anaeróbicas especialmente selecionadas de amostras coletadas dos reservatórios naturais de petróleo", explica Marsaioli.
Com estes procedimentos, os pesquisadores buscam conseguir uma coleção de bactérias capazes de biodegradar petróleo. Os consórcios podem se transformar em uma ferramenta de remediação do meio ambiente em casos de derramamento de óleo no oceano, por exemplo. Os cientistas já sabem que as bactérias associadas a esses meios no subsolo só conseguem fazer a degradação do óleo pesado porque produzem substâncias que são chamadas de biosurfactantes e que permitem que o óleo pesado seja transformado em uma emulsão. Por isso, outro objetivo desse trabalho, segundo a pesquisadora, é elucidar o caminho químico do processo através da coleta periódica de amostras e identificar substâncias potencialmente biosurfactantes.
Esse projeto faz parte da rede temática multidisciplinar de Geoquímica Orgânica, coordenada pelo químico Francisco Reis. O objetivo dessa rede é gerar conhecimentos que possibilitem, em longo prazo, criar procedimentos capazes de atuar na recuperação do meio ambiente em casos de desastres ambientais através de processos de biodegradação.
As redes temáticas, segundo Reis, foram adotadas pela Petrobras a fim de direcionar as pesquisas para os temas de maior interesse da sociedade e reunir trabalhos, com o mesmo foco e que sejam feitos por diferentes instituições de pesquisa do Brasil. A aplicação dos recursos, usados para renovar, construir e equipar laboratórios é fiscalizado pela ANP (Agência Nacional de Petróleo). Já a propriedade das pesquisas e o desempenho dos pesquisadores são supervisionados através de uma parceira com o Centro de Pesquisa da Petrobrás (Cenpes) no Rio de Janeiro.
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