16 de dezembro de 2007

REFLORESTAMENTO OU REVEGETAÇÃO?


Ecologia e meio ambiente


Uma amostra de floresta Há 500 anos, quase todo o nosso litoral era recoberto pela exuberante Mata Atlântica


A Mata Atlântica é a cobertura vegetal brasileira com maior índice de degradação, pois foi ao longo de sua área de ocorrência que se instalaram as principais cidades do país. Estudos recentes indicam que resta apenas pouco mais da vigésima parte da vegetação original, que recobria a costa brasileira do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. Nessa época, a floresta se estendia por cerca de 1,1 milhões de quilômetros quadrados. O que restou pode ser encontrado em melhor estado de conservação sobre as serras, entre os estados do Rio de Janeiro e Paraná.
Nas reservas de Poço das Antas e Macaé de Cima, localizadas em regiões montanhosas, a floresta ainda sobreviveImagine quantas espécies animais e vegetais desapareceram com essa devastação. As árvores foram, sobretudo, usadas como lenha ou derrubadas para abrir espaço para diferentes lavouras que se implantaram ao longo da Mata Atlântica. Os bichos foram vítimas da caça e do desaparecimento de seus hábitats naturais. O mico-leão dourado, animal que se tornou símbolo da Mata Atlântica, é a mais famosa das muitas espécies que correm risco de extinção. Mesmo sendo uma das coberturas vegetais que apresenta maior diversidade de espécies no Brasil e no mundo, e embora os grandes centros de pesquisa estejam localizados em áreas de Mata Atlântica, os estudos sobre ela são pequenos, se comparados aos realizados na Amazônia, por exemplo. Os botânicos sentiam falta de uma atualização de informações sobre a flora remanescente de Mata Atlântica. A partir de dados atualizados sobre quais espécies ocorrem e como elas ocorrem nos ambientes, poderiam ser iniciados os trabalhos de restauração de áreas, tão necessários à realidade atual dessa floresta. Assim, surgiu em 1989 o Programa Mata Atlântica, realizado pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, com o patrocínio da Petrobras e da MacArthur Foundation -- fundação americana de apoio a projetos de pesquisa. O trabalho foi dividido em três etapas, cada uma executada por um grupo de pesquisadores do Jardim Botânico. Como você já deve ter lido no link acima, a revegetação das áreas degradadas ocorre na terceira etapa do programa. Não seria reflorestamento? Não. O termo reflorestar está ligado ao plantio de espécies exóticas e, de modo geral, ao aproveitamento econômico das áreas reflorestadas. Revegetar ou restaurar (termo que é usado mais recentemente) diz respeito ao plantio em áreas degradadas utilizando espécies típicas àquela região, valendo-se do conhecimento prévio sobre a vegetação do lugar. Por isso, as duas primeiras equipes fazem uma investigação tão detalhada das plantas, definindo qual espécie vegetal se desenvolve melhor num determinado ponto da floresta, e ainda onde cada uma delas vivia antes de desaparecer. Nos últimos anos, a velocidade da degradação da Mata Atlântica vem diminuindo. Em parte, porque já não há muito mais o que derrubar. E também porque as pessoas estão se conscientizando de que há muitas maneiras de aproveitar a floresta sem destruí-la. Quem sabe um dia não poderemos tomar um banho de mar à sombra da floresta avistada por Cabral?
adaptado do artigo originalmente publicado em Ciência Hoje das Crianças 109 escrito por: Rejan Guedes-Bruni, Coordenadora do Programa Mata Atlântica Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.


Fonte: Revista Ciência Hoje Crianças.

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