8 de novembro de 2007

ECOLOGIA SISTÊMICA - Fritjot Capra

Por quê Ecologia sistêmica ?

Por não estar relacionada a um elemento ou fato isolado, mas a uma forma de ver o todo, daí dizer-se ecologia holística ou sistêmica. Estáintimamente relacionado as idéias de conexidade, de relações e contexto. Todo sistema é composto de partes individuais, mas estas partesnão são isoladas, antes a natureza do todo é diferente da soma de suas partes. As características das partes surgem das interações e das relações entre as partes. O pensamento sistêmico é contextual e oposto ao analítico. O analítico isola os elementos para entende-los, enquanto o sistêmico coloca-os num contexto mais amplo.

Crise

Atualmente, nossa civilização depara-se com um choque entre sua existência incompatível com a preservação dos recursos e capacidade do planeta. Essa crise é gerada pelo crescimento econômico, populacional, exaustão de recursos, explosão demográfica, destruição dos ecossistema, desequilíbrio ambiental planetário, proliferação da miséria, quebra da capacidade de sustentação do planeta. A crise embora tenha desdobramentos concretos é em sua essência geradora, uma crise de conhecimento, proveniente de uma forma de pensar preponderante que enfatiza a racionalidade e como conseqüência disso a geração de uma cultura que fomenta o cientificismo.


A ênfase no materialismo em detrimento do ser, paralelo ao estilo de vida gerado pelo desenvolvimento econômico gerou uma coisificação ou desumanização da cultura.Essa crise levará a uma reorientação da história, através das pressões geradas por ela mesma. Tal processo já está acontecendo de forma gradual. Para onde o processo se encaminha e qual será o resultado? – Não sabemos.

Paradigmas e crise de percepção

Nossa civilização passa por uma crise de percepção. Nosso enfoque para os diversos segmentos, processos e fenômenos em nossa sociedade são sempre pertinentes a um ótica que os toma como sendo não interligados e também não interdependentes. Isto é, tratamos as situações como problemas não relacionados. Os problemas surgem e uma vez que passam a existir sugere-se uma solução compartimentalizada para os mesmos. Trata-se a manifestação ou a conseqüência, mas não as causas. As causas sempre são mais difíceis de serem tratadas por estarem relacionadas ao modulus vivendi de nossa sociedade, ou estreitamente relacionadas à prática capitalista ou cultural.

Daí, ser difícil lidar com tais situações. Mais fácil é a implementação de soluções localizadas, do que gerar qualquer modificação no fenômeno causador. Capra diz que a humanidade passa por uma crise de percepção constituída pelos paradigmas equivocados que a regem.

Quanto aos paradigmas atualmente prevalecentes e que dominam nossa cultura, podem ser citados a visão do universo como um sistema mecânico composto de blocos de construção elementares, o corpo humano como uma máquina, a vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso material ilimitado, a ser obtido por intermédio de crescimento econômico e tecnológico, e também a crença generalizada da inferioridade da mulher.

Ainda prevalece em nossa sociedade o paradigma do mecanicismo cartesiano: essa maneira de pensar teve origem nos séculos XVI e XVII, quando, em detrimento de uma visão aristotélica e cristã do mundo e de suas coisas, passou a existir um enfoque “científico”, que propôs que tudo poderia ser explicado pela ciência. A física, astronomia e matemática através das obras de Copérnico, Galileu, Descartes, Bacon, Newton, dentre outros, forneceram o fundamento para essa mudança. No campo filosófico e religioso, Deus e/ou seu conceito, deixam de serem o centro, para a ascensão de uma visão antropocêntrica que prevalece até hoje.

“mais do que uma crise ecológica, a problemática ambiental diz respeito a um questionamento do pensamento e do entendimento, da ontologia e da epistemologia pelas quais a civilização ocidental tem compreendido o ser, os entes e as coisas; da ciência e da razão tecnológica pelas as quais temos dominado a natureza e economicizado o mundo moderno”
(Capra )

Holismo

Propõe uma visão em que o mundo é visto como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas. É tomar um todo funcional e compreender as interdependências das diversas partes. Se for acrescentado o enfoque ecológico, é necessário dizer que o elemento considerado está dentro de um ambiente que lhe fornece elementos, e que por sua vez também é afetado pelo elemento em consideração.

Ecologia rasa

Trata-se da ecologia antropocêntrica. O homem jaz acima da natureza e dele provêm a fonte de todos os conceitos e valores. Exemplo: -tal animal serve para isso; -tal espécie vegetal vale no mercado tantos R$. As coisas são definidas e analisadas segundo a utilidade que apresentam à subsistência ou sob ótica da valoração econômica. Prevale-se um enfoque UTILITARISTA ou ECONOMICISTA.

Ecologia profunda

Propõe o reconhecimento do valor intrínseco de todos os seres e coisas através de sua interconecção. O valor das plantas, animais e minerais está em sua existência em si. Esses elementos interagem continuamente mantendo um TODO harmônico imprescindível para a continuidade da existência. Havendo a continuidade da existência do TODO, o homem terá sua existência garantida, pois ele é apenas um elemento menor de um ecossistema maior denominado Biosfera.

“...a ecologia profunda está alicerçada em valores ecocêntricos (centralizados na Terra). É uma visão de mundo que reconhece o valor inerente da vida não-humana.”
(Capra)

Para que ocorra essa mudança de paradigma é necessário uma expansão não apenas de percepções e maneiras de pensar, mas também de valores.





Fonte:http://www.bios.org.br

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