24 de novembro de 2007

O confronto entre Mídia e Meio Ambiente

A mídia informa e é capaz de legitimar representações e conceitos diante da sociedade. Suas ações marcam espaços e maneiras de ser, pensar e agir perante as questões que tangem às relações humanas. Já o meio ambiente é o que nos permite sobreviver sobre o planeta Terra. Ele incorpora a água que bebemos, o ar que respiramos, os recursos naturais com os quais produzimos alimentos, roupas, proteção e conforto. Haveria motivos para a mídia confrontar-se com aquilo que nos mantêm vivos?

É um paradoxo observar que, muitas vezes, quem poderia esclarecer os cuidados e riscos que o meio ambiente necessita para sua preservação (e aqui, implícita, está a manutenção da vida do homem) trata esta de modo indiferente. Parece, à primeira vista, inadmissível que a maior fonte de disseminação das informações reserve o espaço destinado às reflexões sobre as condições do nosso habitat para notícias de cunho ambiental meramente ilustrativas. Refiro-me às matérias jornalísticas focadas em curiosidades da vida animal, em fatos pitorescos do cotidiano que abrangem a fauna ou a flora e de espetacularizações em cima de fenômenos naturais. A tragédia ou o desastre ambiental pauta os meios de comunicação em virtude, especialmente, do tom apocalíptico que se impõe à notícia.

Sabemos que os jornais e programas jornalísticos em geral buscam o conhecido "furo". Esse jargão, amplamente difundido dentro das redações, demarca a questão da importância dada às informações publicadas na mídia: mais vale divulgar o inusitado pífio ao problema que, mesmo sendo de relevância, seja permanente. Nota-se muito tal descaso em jornais de veiculação diária. Embora hoje em dia já existam editorias específicas para a pauta sobre meio ambiente, estas são restritas e mal-aproveitadas. Os próprios repórteres encarregados das seções indicadas não possuem domínio dos termos utilizados nesse campo. Faltam recursos para a produção de reportagens maiores e as páginas destinadas ao tema são as de menos valor. Conclui-se que, apesar de existir exceções, a notícia ambiental é desprestigiada pelas empresas jornalísticas, resultando em matérias pouco atrativas e de pouco interesse público.

É claro que não podemos generalizar. Há veículos de comunicação que desempenham satisfatoriamente sua responsabilidade social e ambiental diante de seus receptores. Nos dias de hoje, vê-se na internet um enorme leque de possibilidades de endereços eletrônicos que informam de maneira compreensível as problemáticas que envolvem o meio ambiente. Também há editorias de impressos e blocos de programação, radiofônica e televisiva, que proporcionam uma visão consciente sobre a temática.

O que pretendo frisar são os aspectos que impedem que a notícia ambiental, em sua essência, seja colocada para a sociedade. Haveria motivos para ocultar fatores que põe em risco nosso mundo? Se os interesses econômicos e políticos prevalecem sobre a existência humana, com certeza, está faltando um pouco de ética no jornalismo que consumimos.

Sabemos, já há algum tempo, que o poder legitimado pela mídia não prioriza a conservação humana. As pressões pelas quais são submetidos os jornalistas, emaranhados nas frágeis redes da estrutura do exercício da profissão, os fazem temer desvelar os jogos de complacência construídos no meio midiático. Além disso, a falta de qualificação não os permite noticiar com clareza as pautas ambientais.

Urge, em vista do que foi exposto, reforçar as bases do jornalismo, primordialmente no que tange às circunstâncias ambientais. A valorização do respeito ao meio em que vivemos e de suas conseqüências carecem ter mais visibilidade por parte dos meios de comunicação. Na teoria, a formação jornalística por si só já faria uso de temáticas sociais, em prol de sua atividade cívica de informar (o que incluiria no hall de suas abordagens o meio ambiente), porém, na prática, é preciso apelar constantemente pelo enfoque do tema. Quando é que os atores construtores dos assuntos lançados na mídia irão se dar conta de suas falhas? Como poderemos crer em uma sociedade mais consciente se a mídia vai de encontro ao bem-estar comum?

Lutemos para que a veiculação da informação ambiental cresça e se solidifique, no intuito de evitar que os erros e prejuízos prevaleçam por tempo indeterminado. O meio ambiente pede ajuda. O confronto aparentemente constituído não precisa (e nem deve!) ser permanente. À mídia, mais isenção e responsabilidade ambiental. Ao meio ambiente, forças para continuar apontando os deslizes humanos e conseguir seu espaço na consciência social.
Fonte:http://www.agricoma.com.br

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